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  • Foto do escritorMaria Luiza Cardinale Baptista

Não é o fim do mundo. É o fim do mundo!

Atualizado: 25 de nov. de 2020


Sim, isso. Ter vivido bastante e intensamente faz bastante diferença nestes tempos. Eu compreendo que vivemos o fim do mundo experimentado até aqui, mas não é o fim do mundo, em sentido absoluto. Nosso mundo é a Terra, a Deusa Gaia. A Terra não acabou; ao contrário, dá sinais de recuperação e bravura, mais ainda que de braveza. Pessoalmente, eu vivo a experiência um dia por vez – lembrando o bordão brincalhão, no sentido de que dias alegres valem por três. Nas minhas conversas com o Moço da Parede, mais agradeço que peço, e busco orientação e permissão para seguir Viagem. No mais, eu já vivi muitos desmanches de mundos, muitos momentos em que a vida parecia ter se dissolvido, diante dos meus olhos, obrigando-me a mudar radical e completamente a direção. Uma espécie de outdoor se acendia em mim, em letras garrafais, que me faziam derramar os olhos: Vamos, Maria Luiza, é tempo de começar de novo! Em grande parte das situações, tive que seguir adiante sozinha, sem entender direito como e porque isso tinha acontecido.


Eu sei, o que vivemos hoje é gigante, diante de uma experiência singular de catástrofe existencial pessoal. Vivemos uma ocorrência dramática, de proporção planetária, sem saber, ao certo, quando, onde, como e se um dia vai passar de fato. Eu penso: Passar vai, mas o que será depois... está em aberto. Teremos que construir juntos, cada vez mais juntos (o que não significa necessariamente perto). Juntos no afeto, juntos na confiança amorosa, juntos na compreensão de que não somos ninguém sozinhos e que, mesmo no Universo, não estamos sozinhos. O simples fato de (ainda) estarmos aqui significa que fomos escolhidos para isso e temos tarefas, temos que dar nossa contribuição para os universos existenciais. Nesse sentido, é preciso c’alma e escuta interior. Também é preciso amorosidade – como ética da relação e do cuidado – para ouvir o outro, para tentar compreender o ‘lado de lá’, sem julgar, sem atropelar, sem demandar esta ou aquela ação. Deixa cada um ser como é, tenta ajudar, no que for possível, deixa a vida fluir. É preciso compreender que cada um enfrenta os seus dragões internos, que a vivência da pandemia nos jogou contra os rochedos da existência, sentindo os esfolamentos do encontro com as pedreiras da vida, ao mesmo tempo que nos vemos repetidamente chacoalhados pela condição de ‘mar bravio’ e turbulento do cotidano (mesmo que isso se dê, muitas vezes, internamente).


Assim, não é o fim do mundo e é o fim do mundo, ao mesmo tempo. Quanto antes compreendermos isso, antes vamos juntar as forças, os resquícios de alegria e de esperança... Vamos acionar a energia que, às vezes, parece nem existir, e vamos nos levantar e caminhar, dar um passo, outro, depois outro... com firmeza e c’alma, com alma, sentimento e mente estratégica. Eu me lembro sempre de uma cena do terceiro filme do Indiana Jones, A Última Cruzada, lançado em 1989, com direção de Steven Spielberg. Na produção cinematográfica de aventura, o arqueólogo Indiana Jones viveu o desafio de uma missão, para salvar seu pai, o professor Henry Jones, que tinha sido sequestrado por nazistas. A trama envolvia a busca do lendário Santo Graal, cálice que Jesus teria usado na Última Ceia. No final do filme, com o pai à beira a morte, o personagem Indiana Jones precisa superar alguns enigmas, para conseguir chegar até o cálice sagrado. Em determinado momento, ele se vê diante de um abismo. Precisava ultrapassá-lo, mas como? Ele, então procura se lembrar da lista de pistas do tal enigma. Naquele ponto da viagem, em busca do cálice, a frase a ser enfrentada é “Só aquele que tem fé conseguirá!”, que eu trabalho ainda com a variação: “Só aquele que acredita conseguirá!”.


Sentindo o risco de perder o pai, diante do maior desafio da vida, atravessar o abismo sem saber como, ele se concentrou, acreditou e deu o primeiro passo no abismo. Só aí, neste momento, descobriu que existia uma passagem, uma ponte, diante dos seus pés e olhos. Ele não via, por uma ilusão de ótica. Via somente o abismo, o risco, o medo, a evidência de morte e destruição. Enfim, há anos, eu trago esta cena para as aulas, para ensinar a pesquisa e dizer que, também nos caminhos da investigação, “Só aquele que acredita conseguirá”. Claro, eu penso na frase em sentido amplo, até porque ela remete ao mito de Dioniso, que viveu o mesmo dilema. O passo seguinte, no abismo da incerteza, implica confiar em algo maior que o si mesmo. Ao mesmo tempo, para que isso seja possível, é preciso começar a travessia vencendo a si mesmo, seus medos, suas inseguranças e arrogância. Eu penso que a pessoa, cresce, quando se apequena, no sentido de se reconhecer como um ser miúdo, em conexão com energias mais amplas, do cosmo. Assim, espero que cada um de nós possa refletir sobre quais são os abismos que temos que enfrentar, na vida. O que poderia representar o cálice sagrado e que vida nova é essa que desejamos? Que possamos seguir adiante, com humildade, diante da nossa pequenez no Universo, ao mesmo tempo, com coragem e confiança, nas conexões potentes. Vamos em frente. Vamos dar o passo que nos cabe, nesse momento da travessia. Não estamos sós! Estamos entrelaçados numa teia cósmica! Concentre-se, acredite, faça o que puder, no ponto em que está... caminhe! VIVA!


Deixo meu abraço com boas energias, de amorosidade e força!


Detalhe: a foto abaixo foi feita em Finesterre, na Galícia, ponto em que os romanos acreditavam que era o 'fim da terra'!






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