Da janela dos meus olhos, eu vejo o passado.
Flores vermelhas, na árvore alta, me lembram
de um tempo de esperas, de sonhos de gente grande.
Tempo em que eu já via a beleza de floresceres,
já me sentia meio filha das árvores,
querendo aprender a brotar, a ser floresta,
ter a base firme, não desmoronar, com o advento de tempestades.
Aprendi que a natureza mãe-terra em mim
seria minha proteção,
que os galhos-abraços me a ajudariam
a suportar os ventos fortes e impiedosos.
Assim foi, assim tem sido.
Da janela dos meus olhos, eu vejo o presente.
Consigo ter a sensação de estar protegida,
alinhada com árvores e brotações de flores vermelhas,
espreitando o céu claro e o horizonte.
Consigo ver o que há por trás das flores e folhas.
Já sei que há máquinas e construções,
galhos secos e corações endurecidos, tantos.
Há sofrimentos, desencantos, desalentos, desesperança.
Por ter olhos na janela, assim tão atentos,
hoje tenho a dimensão de minha responsabilidade.
Sou agora uma mistura de menina-moça-mulher-velha,
árvore matriz de outros tantos floresceres, flores e seres.
Então, nesse tempo de recolhimento, esforço-me,
refaço-me em verso e prosa, revejo-me aqui de dentro,
reencontro-me, acho graça de mim mesma!
‘Des-culpo-me’, pelo que não fiz, não pude!
Da janela dos meus olhos, eu vislumbro o futuro
e agradeço ter olhos, por ter essa janela,
ter sido guardada aqui dentro de mim
e de casa, para esperar... para viver outro tempo
e seguir semeando Malu-quis-ces!
Maria Luiza Cardinale Baptista
(Foto: João Romanini)
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