Tristes caminhos soterrados, por pedaços de pedras cortadas!
Realidade em caos, irregularidades, espelhos quebrados,
tecnologias domésticas derramam notícias de morte.
O cotidiano tenta nos sufocar sob pedreiras,
quer nos fazer sucumbir, oprimidos,
debaixo das calçadas arrogantes.
Elas escondem raízes, a terra, o húmus da vida.
Vivemos sob os escombros dos geometrismos das cidades,
que se mostram como se naturais fossem,
alinham-se autoritários, ditam rumos, insinuando percursos.
Eu não sei vocês, mas eu não posso mais pensar muito.
Eu não posso pensar tudo.
Há pensamentos difíceis de suportar.
Ainda assim, eu vivo pensando tanto.
Sentindo muito, tudo.
Eu não sei vocês, mas eu sinto dores, às vezes,
ao fazer esforço, para seguir ‘exist-indo’!
Para manter-me em pé, altiva, pessoa...
simples ser singelo, poeira cósmica,
diante de tantos assombros e incêndios,
tantos gemidos e gritos de socorro.
Penso nos animais morrendo, as árvores caindo...
E eu aqui, soterrada de tarefas...calçada!
Ao mesmo tempo, mergulhada nos pensamentos,
agradeço por ter raízes fortes,
que me ajudam a resistir, a ‘sobre-viver’.
Em meio às pedreiras, à engrenagem maquínica,
sigo buscando jeitos de ir rasgando
o quadriculado dos dias, abrindo as janelas,
acionando reentrâncias, miudezas de alegria...
acionando devires esperanças!
É isso que estou fazendo aqui... espero!
Maria Luiza Cardinale Baptista
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