Na dobra de esquina eu vejo a rua e não vejo a rua.
A rua está lá, mas não está. Não está mais!
Há prédios, pessoas, poucas.
Carros, quase não há.
Eu mesma, que saí de casa por imposição do dia...
também não estou.
Não ouso sair totalmente de ‘dentro de mim’.
Vou me esgueirando, pensativa, de olhos atentos,
como quem foge de algo... invisível.
Todos sabemos... só não vemos.
Detenho-me um tempo olhando...
a ilusão de cidade, na dobra da esquina.
A rugosidade dividida por finas linhas retas,
do prédio, aparentemente sólido, firme... Será?
A calçada, o chão quadriculado, a faixa de segurança.
Penso: será mesmo possível atravessar (as agruras todas)?
Temos poucas chances, quando vivemos em territórios
em que a árvore-vida brota retorcida em minúsculos retângulos,
concessões de respiro à Mãe Terra...
O olhar então se desvia para o alto
e, no rendado da trama das folhas da árvore,
brechas de um azul límpido lembram-me que não estamos sós.
Estamos em conexões maiores, somos viajantes em transformação.
Fomos convocados para vislumbres e para reaprender a caminhar,
a conviver, a amar, a sobre(viver), no cosmo, como planeta!
Maria Luiza Cardinale Baptista
(Foto: Joao Romanini)
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