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Foto do escritorMaria Luiza Cardinale Baptista

Por um fio...

Atualizado: 19 de nov. de 2020


um parreiral com um cacho de uva em brotação
Foto: João Romanini

Brutos tempos em que se tem a vida por um fio...

Hoje, vivo. Amanhã, quem sabe?

Quantos que estão comigo permanecerão?

Eu mesma, não me comprometo estar...sigo tentando.

O que será, então, dos sonhos que sonhamos juntos,

em meio ao atordoado dos dias de correria lá fora?

Onde está mesmo o lá fora, se eu morei tanto em mim,

mais escondida que nunca, nos meus cachos,

por trás das lentes embaçadas dos meus olhos,

mergulhada em maluquices e sentimentos profundos...?


Reencontrei pedreiras, paredes, despenhadeiros.

Revisitei amores e desamores, revi seres conhecidos

em sonhos, fotos, vídeos, conversas virtuais,

mensagens de madrugada e choros compartilhados.

Olhares trocados, segredos guardados.

Assim, por trás da vidraça dos meus olhos,

me emocionei com tanta gente...

me arrepiei com pressentimentos e presenças etéreas.

Vi meu pai indo embora... meus irmãos, depois do aceno.

Depois, o muro branco a me consolar o inconsolável.


Mitológica cena em que temos a vida em suspenso,

aguardando o tempo de brotação, de reflorescimento,

o tempo de ‘tomara’... enquanto isso, a vida por um fio...

espreitando o caminho, como quem busca adivinhar o devir.

O que deve vir a ser depois disso tudo... tanto?

Eu que nasci de seres forjados a facão,

do ‘jeitão da madeira’ do viajante mecânico caminhoneiro

de saltos oceânicos da cigana florista italiana,

aprendi a acreditar na força da trama-teia da vida.


Por alguma razão, como é possível, ainda estamos juntos,

ainda que estejamos todos com a vida por um fio.

Que o entrelaço seja forte e nos ensine a ‘re-existir’!


Maria Luiza Cardinale Baptista


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