Brutos tempos em que se tem a vida por um fio...
Hoje, vivo. Amanhã, quem sabe?
Quantos que estão comigo permanecerão?
Eu mesma, não me comprometo estar...sigo tentando.
O que será, então, dos sonhos que sonhamos juntos,
em meio ao atordoado dos dias de correria lá fora?
Onde está mesmo o lá fora, se eu morei tanto em mim,
mais escondida que nunca, nos meus cachos,
por trás das lentes embaçadas dos meus olhos,
mergulhada em maluquices e sentimentos profundos...?
Reencontrei pedreiras, paredes, despenhadeiros.
Revisitei amores e desamores, revi seres conhecidos
em sonhos, fotos, vídeos, conversas virtuais,
mensagens de madrugada e choros compartilhados.
Olhares trocados, segredos guardados.
Assim, por trás da vidraça dos meus olhos,
me emocionei com tanta gente...
me arrepiei com pressentimentos e presenças etéreas.
Vi meu pai indo embora... meus irmãos, depois do aceno.
Depois, o muro branco a me consolar o inconsolável.
Mitológica cena em que temos a vida em suspenso,
aguardando o tempo de brotação, de reflorescimento,
o tempo de ‘tomara’... enquanto isso, a vida por um fio...
espreitando o caminho, como quem busca adivinhar o devir.
O que deve vir a ser depois disso tudo... tanto?
Eu que nasci de seres forjados a facão,
do ‘jeitão da madeira’ do viajante mecânico caminhoneiro
de saltos oceânicos da cigana florista italiana,
aprendi a acreditar na força da trama-teia da vida.
Por alguma razão, como é possível, ainda estamos juntos,
ainda que estejamos todos com a vida por um fio.
Que o entrelaço seja forte e nos ensine a ‘re-existir’!
Maria Luiza Cardinale Baptista
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