Que sorte eu tive, por ver o orvalho,
ou seriam gotículas de chuva?!
Sorte por perceber a paz dos sulcos
e a regularidade das nervuras das folhas.
Sorte por sentir a sensação de aconchego
no amontoado das almas-folhas que se buscam...
Sorte também pelo conforto de estarmos juntos,
ali, aqui, em cada canto, cada um do seu jeito, no seu tempo,
sempre em busca de modos de existir.
Que sorte eu tive, pelo conforto
dos abraços que sinto ainda, que ainda tenho,
porque abraços de verdade não são ‘corpo’ apenas.
Abraços são existências que se juntam,
em entrelaços intensos – no limite do corpo,
de ser à flor da pele, em energias que se fundem.
Que sorte eu tenho por saber que, nesse grande canteiro
de brot(ações) compartilhadas,
temos ainda a proteção da Flor(esta) ao fundo,
como substrato de força, como matriz de vida!
Que sorte é essa, nestes tempos, poder
poetizar o orvalho, o verde-esperança,
que surge quando (ainda) estamos juntos
- mesmo que não necessariamente perto!
Maria Luiza Cardinale Baptista
(Foto: João Romanini)
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