Onde estão todos? Não, espera.
Escuta o silêncio e o som suave
do desdobrar-se das águas...
Nesse ir e vir constante, elas se gostam,
desgostam, enroscam-se, desenroscam-se,
desdobram-se numa dança amorosa,
em que se envolvem nelas mesmas,
soltando-se, em seguida...
em rolinhos-onda,
meio que se rindo, sorrindo...
Pressinto, no sussurrar das águas,
fluxos sorrateiros que segredam
cumplicidades.
Provocam-se, insinuam-se, acolhem-se,
em ternos e intensos estremeceres,
quereres de enredamentos e soltura,
como tem que ser, para que seja pleno,
para que seja sempre!
De novo, a pergunta: onde estão todos?
Aqui desse lugar, dentro de mim mesma,
eu vejo distâncias, não vejo ninguém
e vejo todo mundo, de todos os tempos.
Revejo amores, a criança que fui,
a colcha da cama da minha avó,
o pé de jabuticaba, a letra trêmula surgindo
nos primeiros escritos,
a madrugada e o dia nascendo,
por entre as frestas da casa de infância.
De repente, um prateado me desperta
dos devaneios de agora.
Na sua luminosa provocação,
Ele desenha, com força, o alvorecer
e a mansidão das águas profundas...
Assim, à deriva nesses sentimentos,
eu me lembro, então, que não sei nadar...
Eu só sei ‘a-mar c’alma’!
Maria Luiza Cardinale Baptista
(Foto: João Romanini)
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